Entrevista com Psicóloga



Conversamos um pouco com a psicóloga Patrícia Freitas que trabalha em um CAPS de Recife e lida cotidianamente com o combate ao álcool. Além de atender à família e ao alcoolista pessoalmente, ainda trabalha com dinâmica em grupo formado pelos usuários e pratica a Arte-terapia como uma maneira alternativa de desvincular os dependentes do álcool.

Inebrinado-se!: Como identificar se o usuário do álcool tem realmente o vício?

crédito: Bruna Serur
Patrícia Freitas: O vício é identificado a partir do momento em que a pessoa se vê dependente: passa a substituir práticas que eram antes importantes em seu cotidiano para consumir a droga, coloca a bebida em primeiro lugar, seu comportamento vai mudando aos poucos sem que ela sinta. Por isso é normal que primeiro a família desconfie da doença... O passo essencial é de que o alcoolista se assuma e se perceba como alguém que realmente esta doente e precisa de ajuda. Desta maneira, buscar o controle com profissionais fica mais próximo de sua realidade.

I: Quando o dependente decidir procurar ajuda, a quem ele deve recorrer?

P: O primeiro passo é ir à procura de profissionais aptos para lidar com a situação. Existem unidades de desintoxicação em caso de pacientes que estão muito intoxicados e há o CAPS (Centro de Atenção Psicossocial) no qual o paciente pode ter melhor acompanhamento e recuperação. Nele há o atendimento médico de um Psiquiatra, há Psicólogos, Assistentes Sociais... São feitos vários acompanhamentos e atividades pelos profissionais.

I: Existe uma média de tempo para que o paciente deixe de necessitar ajuda médica?

P: Não. Isso é muito relativo. Existem pessoas que começam o tratamento mas têm uma recaída, outras que recebem alta mas depois de alguns anos voltam a necessitar do atendimento novamente... Psicologicamente falando esta pessoa sempre poderá se envolver novamente e se tornar dependente. Existem os comportamentos de riscos que podem levar a uma recaída... Mas o alcoolista sabe que tem que ter muita força de vontade para não cair novamente...
crédito: Bruna Serur

I: Quanto à abstinência muita gente acha que, quando se trata do álcool (uma droga legalizada), o momento da abstinência é mais ameno. Isto é verdade?

P: Este é um dos maiores mitos. A abstinência do álcool pode causar ansiedade, irritabilidade, tremores, suores, náuseas, aumento da pulsação cardíaca, taquicardia, insônia, febre... Muitas sensações são comuns às do dependente de qualquer outra droga.  O conceito de que o consumo de álcool faz menos dado à saúde é completamente errado e muito perigoso pois muitas vezes as pessoas acham que não vão se viciar exatamente porque o álcool é mais comum, todo mundo consome... Ele pode causar doenças graves como AVC e cirrose hepática.

I: Qual a importância dos familiares na recuperação?

P: A presença e apoio da família são essenciais. O usuário tem que se prender àquelas pessoas com as quais há intimidade para poder se sentir apoiado e para saber que há razões para a reabilitação. Se a família e amigos não apóiam, a pessoa se sente só e sem motivos para continuar o tratamento. Acaba tendo recaídas, não levando a sério a presença no tratamento... Acaba vendo que não tem ninguém ao seu redor que o estimule a continuar.



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